domingo, 13 de junho de 2010
Futebolês Total - o Futebol perdeu encanto?
Aqui está postada a 3ª crónica de Ricardo Costa autor do conceituado blog Futebolês que pode visitar através do link presente na lista da barra lateral. Espero que gostem caros leitores. Disfrutem sempre.
O FUTEBOL PERDEU ENCANTO?
Olho para a televisão, tento pensar em mil e uma coisas para que aquele zumbido não me afecte os neurónios e espero ser envolvido pelo futebol praticado. Até hoje, terceiro dia de Mundial, ainda não fiquei realmente preso em frente à televisão. Sim, eu sei, ainda agora começou. Nada de pânico, portanto, mas um adepto de futebol, daqueles como eu que não gosta dessas coisas de tácticas calculistas e gosta de ver um verdadeiro jogo de futebol com ritmo alto e ataque contínuo, espera sempre ser bem entretido. Na África do Sul, contudo, ainda não apareceu uma equipa que me surpreendesse, que espantasse pelo futebol e que me oferecesse noventa minutos de puro divertimento. Isso, actualmente, é um risco. Mas o futebol ganha outro encanto. Volta ao passado. Não é egoísmo jogar apenas para o resultado?
Nos últimos dias, com o precioso auxílio da televisão e da internet, dei por mim no México. Por lá andava Diego Armando Maradona, o tal que, naquela tarde de 22 de Junho, no Estádio Azteca, pegou na bola, correu como um louco, deixou meia-dúzia de adversários pelo caminho, deu mais uns passinhos, encarou com Peter Shilton e rematou certeiro. Antes marcara com a mão. Batota e genialidade pura. Em poucos minutos, Maradona juntou os dois. Ontem, no Argentina-Nigéria de 2010, olhei de relance para a televisão e vi-o de fato e gravata. Gesticulava, gritava, corria para aqui e para ali, falava para quem estava atrás de si. O ímpeto, a vontade e a garra estão lá, tal como em 1986. Só que agora não tem o dez nas costas, o fio ao pescoço e os calções pretos a baloiçar. Está diferente mas igual, no fundo. Tocou o céu como jogador. O que valerá realmente como treinador? Diz-se que muito pouco. Esperemos para ver. É o melhor.
Confesso: gostava de já ter nascido quando decorreram os Mundiais do México, em 1986, ou o de Itália, em 1990. Durante a semana que antecedeu o ínicio do Campeonato do Mundo de 2010, este em que já estamos mergulhados, vi os filmes dessas duas edições da prova. Duas ou três vezes. Gostava de cá estar para ver Gary Lineker ou Salvatore Schillaci marcarem mais do que os outros. Ou apreciar as defesas de Peter Shilton, os passes de Valdano e os golos de Romário ou ainda Karl-Heinze Rummenigge. O futebol tinha mais magia. Estava mais perto da sua essência. Busca pelo golo, pelo espectáculo, pelo talento que se espalharia pelos relvados. Hoje é diferente: tudo mais planeado, menos intuitivo, há menos espaço para as arrancadas fulgorantes. O jogo de xadrez, a movimentação exacta das peças depois de um conhecimento profundo do adversário, sobrepõe-se. É a lei do jogo.
Há que evoluir.Este Mundial da África do Sul parece diferente. Não sei se será por ser em África. Ou pode até ser pelas questões de (in)segurança, pelo barulho (sim, aquilo não tem outro nome!...) dessa engenhoca chamada vuvuzela ou pelo descontentamento generalizado da bola, a pobre Jabulani, que ninguém gosta e todos querem ver de lado. O que me parece que fica de tudo isto é que, hoje em dia, mais do que paixão, o futebol é estudo, é observação e é calculismo. Alguém pensou em ouvir Maradona, aquele diabo que arrasou nos relvados mexicanos em 1986, queixar-se da bola? Para ele, como para outros do seu tempo, a bola era a sua melhor amiga. Dava-lhe um carinho, um beijo até, colocava-a no chão e iniciava o seu espectáculo. O futebol era mais bonito. Eu acho. Gostava que, quando escrever a minha próxima crónica, tudo isto tivesse sido alterado e o Mundial 2010 tenha trazido imenso espectáculo.
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