Portugal empatou, goleou e, de novo, empatou. Marcou sete golos, em apenas um jogo, e não sofreu nenhum. Conseguiu cinco pontos e está, por isso, presente nos oitavos-de-final do Mundial 2010. Eu, um pessimista por natureza, entendo que o grande objectivo da nossa selecção está cumprido. Pouca ambição? Profeta da desgraça? Não. Sou, antes, realista. Portugal tem, sem dúvida, uma boa equipa, jogadores de enorme valor, está a revelar uma impressionante consistência defensiva, mas falta-lhe qualquer coisa para que possa ser considerada candidata ao título. Falta, sobretudo, poder de fogo. A selecção portuguesa ocupa bem os espaços, retira iniciativa ao adversário e forma um bloco que, sem ser uma muralha em frente à baliza, abre poucas brechas. Isso torna, como se tem visto, missão difícil marcarem um golo a Eduardo - que bem ele tem estado! Não serve, contudo, para ganhar...
Permita-me, leitor, um aparte. Carlos Queiroz é alvo constante de críticas. Umas vezes com razão, devido a algumas opções que toma, mas noutras nem por isso. Como todos, é evidente, erra. A causa maior dessas críticas, das tais que são injustas para com o seleccionador, prende-se com o passado recente da selecção nacional. Com Scolari, goste-se ou não do homem, ganhamos novo estatuto, conseguimos voltar ao topo mundial e ser uma agradável surpresa. Estando muito perto, sem porém lá chegar, do que os Magriços, em 1966, alcançaram. Queiroz chegou, contudo, num mau momento. Num momento de reestruturação. Scolari saiu e com ele abandonaram também os últimos resistentes (Pauleta, Rui Costa e Figo) da Geração de Ouro. Queiroz remodelou.
Volto ao início: o nosso principal objectivo, o que qualquer português poderia legitimamente exigir à selecção nacional, está cumprido. Num grupo complicado, com adversários de peso, como Brasil e Costa do Marfim, Portugal, sem ser brilhante, passou com segurança. A selecção portuguesa entrou a medo, não querendo arriscar uma derrota que lhe poderia ser fatal, caso concedesse a oportunidade de os costa-marfinenses ganharem embalagem rumo aos oitavos-de-final; venceu, como era sua obrigação, a frágil Coreia do Norte, demonstrando uma gula pelos golos que redundou numa vitória histórica, algo fundamental para encarar o terceiro jogo com pressão muito reduzida; por fim, frente ao papão Brasil, privilegiou a consistência defensiva, segurou os brasileiros, impediu que sufocassem e tentou, na segunda parte, ser mais atacante para procurar um golo - não ganhando, dizem os livros, faz tudo para não perder. Com pragmatismo, Portugal cumpriu.
Quando os jogos são a eliminar, na altura dos tais mata-mata, diz-se que tudo é possível. É apenas um jogo, se necessário com prolongamento e grandes penalidades, onde não há margem de erro, onde se esquece o passado e qualquer coisa pode acontecer. Portugal defrontará a Espanha. Os espanhóis, campeões da Europa, partem com favoritismo. Isso, contudo, está longe de significar que seja uma equipa imbatível. Juntando poder de fogo, com maior capacidade para romper e criar oportunidades, à coesão que tem exibido, Portugal pode seguir em frente. Não devemos, porém, nós portugueses, fazer disso uma obrigação. Porque somos, no máximo, um papãozinho mundial. Acreditar devemos fazê-lo sempre. Mas com moderação, chamando a razão, consoante os recursos disponíveis.
PS: Eduardo e Fábio Coentrão têm sido, do meu ponto de vista, os principais jogadores da selecção portuguesa. O guarda-redes, imperial e mandão, está a revelar-se uma garantia de máxima segurança, sendo a base do sucesso defensivo da equipa portuguesa, conseguindo, pela primeira vez no historial da equipa nacional, terminar a fase de grupos sem golos sofridos. Fábio Coentrão, no seguimento da sensacional temporada que realizou no Benfica, emerge neste Mundial, encanta a cada minuto, encara Drogba ou Maicon como quem joga entre amigos. Tranquilo, confiante e ousado para atacar, Coentrão é, a par de Eduardo, um pilar de Portugal
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